Continuando as formações sobre o Método Billings, hoje
estamos trazendo uma entrevista com o Dr. Agostino Bertoldi, médico, presidente
da Confederação Nacional de Planejamento Natural da Família (Cenplafam) de
Curitiba (PR), que nos aponta a opção pelo método natural como forma de
planejar uma família aberta à vida, inclusive sendo utilizado por casais com
dificuldades para engravidar. Dr. Agostinho Bertoldi trabalha, há 25 anos,
junto aos casais no planejamento natural.
O método Billings funciona? Qual o seu fundamento
científico?
Dr. Agostinho Bertoldi – O planejamento natural da
família é um complexo que atinge a fecundação do casal. E a base da aplicação
do método natural que mais trabalhamos é o método de Ovulação Billings. O
método de Ovulação Billings tem uma eficácia no sentido de dar segurança e
garantia aos casais, equivalente a qualquer outro método. Quando ele é bem
compreendido e aplicado pelo casal, a eficácia é próxima a 100%. Nenhum método
dá uma eficácia de 100%, mas a eficácia do método natural se aproxima muito dos
100%.
A gente deve entender o seguinte: porque o método é bom,
cientificamente bem estruturado, com eficácia segura e como ele atende a todas
as linhas doutrinárias dos princípios da Igreja sobre a geração dos filhos,
então a Igreja aprova o método natural. Não é um método da Igreja, porque ele
não surgiu no seio da Igreja, mas no seio da comunidade cientifica. Vários
pesquisadores e a literatura médica registra toda essa evolução dos métodos
naturais, não só do Billings, mas o da temperatura e do Ogino Knaus. São métodos
que tem um embasamento científico seguro e tem todo respaldo científico.
Infelizmente, ficou uma interpretação errônea de que ele seria um método da
tabelinha. Na estruturação do método de ovulação Billings participaram alguns
nomes de destaque da pesquisa e medicina mundial, como o Dr. Eric [Odeblad],
que é considerado a principal autoridade médica e científica no estudo do muco
cervical e esse pesquisador faz parte da equipe do Billings. E assim, outros
médicos, como Dr. Brown e o próprio Dr. Billings. Ele era um ‘católico de
Bíblia’, praticante, um homem extraordinário com sua esposa Evelyn. Eles
trabalharam a questão no campo científico. E por ser um trabalho sério e seguro
é que a Igreja aconselha seus casais para que considerem a alternativa natural
através do método de Ovulação Billings.
Como fazer com o que os casais entendam que não se trata de
um método para se evitar filhos, mas para planejar também?
Dr. Agostinho Bertoldi – Os métodos artificiais ou dito
contraceptivos, o próprio termo está definindo o objetivo do método, ou seja,
são métodos contra a concepção. E é só no método natural que o casal tem a
possibilidade de usar ou para evitar uma gravidez, porque o casal está fazendo
um planejamento no momento mas tem a possibilidade de gerar uma vida e usa o
método para espaçar uma gravidez, ou para postergar uma gravidez para que ela
aconteça no momento mais favorável da vida do casal.
No nosso centro de Curitiba, temos um convênio com a
Secretaria Municipal de Saúde, para casais que estejam com alguma dificuldade
para obter uma gravidez. Através do centro de saúde eles são encaminhados para
o nosso centro de planejamento. Marido e mulher são orientados, tanto no
sentido da fertilidade como no apoio psicológico. Nós temos psicólogos que dão
todo apoio a esses casais, que muitas vezes já estão um pouco estigmatizados,
com medo da esterilidade. Temos, no nosso centro, uma estatística que se
aproxima de 150 nascimentos de casais que eram rotulados como estéreis e
impossibilitados de uma gravidez. Muitos deles já tinham, inclusive, passado
por centros de reprodução e não obtiveram sucesso. Com a atenção dada a eles no
centro de planejamento natural, aliando conhecimento do método natural com
atendimento psicológico, eles obtiveram a tão esperada e sonhada gravidez.
Existe alguma restrição? Ou todas as mulheres, inclusive as
que não tem um ciclo regular, podem fazer?
Dr. Agostinho Bertoldi – Como o método não é de conta de calendário, não
enquadra a mulher com seus ciclos numa regra fixa, mas é personalizado e se
adapta à condição fisiológica de cada mulher, a cada ciclo. Nós estamos vivendo
tempos em que uma série de fatores (fatores muito estressantes na vida da
mulher e com as mudanças nos padrões de vida feminina), [fazem] os
ciclos ter algumas variações. Mas como o método da ovulação se baseia na
observação, nos fenômenos fisiológicos que acontecem no organismo feminino, o
método traduz para a mulher, através dos seus sintomas, o que está acontecendo
no interior do seu organismo, como a hipófise está funcionando, como está se
relacionando com os ovários, como estes estão se relacionando com o útero, com
as glândulas do canal cervical produzindo o muco…
Toda essa integração acontece no organismo feminino e tem
algumas variáveis, mas como o método da ovulação não é restritivo, ele se
aplica em qualquer situação, em qualquer ciclo e, às vezes, até em várias fases
da mulher. Se aplica até quando o casal já definiu o número de seus filhos, mas
pode continuar usando o método para ajudar na fecundidade do amor do casal.
Depois da fecundidade biológica, ele consegue alimentar o amor do casal para
que viva bem e para que trate de modo amoroso os seus filhos.
O método é indicado também para um autoconhecimento. As
mulheres que não estão fazendo um planejamento familiar, tem algum benefício?
Dr. Agostinho Bertoldi – A gente tem experiência, em
cursos e encontros de noivos, quando perguntamos se alguma noiva sabe se está
ovulando e se teriam condição de dizer de algum elemento efetivo para esta
definição. Praticamente nenhuma tem conhecimento. E quando a gente diz “se
vocês nem tem conhecimento se tem ciclos ovulatórios ou não, vocês tomando
pílula e sabendo o mecanismo de ação, estão inibindo uma função que nem ter
certeza se tem”, elas ficam todas assustadas. Quando damos no curso todas as
informações bem detalhadas e cientificamente bem corretas, elas ficam muito
atentas e descobrem que podem, a partir da sua menstruação, a partir dos
sintomas da ovulação, conhecer melhor como funciona o seu organismo.
Às vezes, o método é até aconselhável a adolescentes, não
como método a ser usado, mas como método de transmissão de saber, pois como
tudo hoje fica mais precoce, é melhor que aprendam direitinho e do modo
correto. As moças, principalmente, devem aprender também a se conhecer para
valorizar mais o seu corpo, a natureza das funções.
Se a mulher fizer o método sem o marido, a eficácia é a
mesma?
Dr. Agostinho Bertoldi – A gente insiste que o método
natural é um método do casal e não só da mulher. E isso o difere muito de um
método contraceptivo, em que a mulher pode tomar a pílula independente da
participação ou da anuência do marido. Para que o método tenha realmente
eficácia, deve ser do casal. Se o marido se nega a participar, a compreender e
a entrar na descoberta do ciclo dos períodos férteis e inférteis, então fica
muito difícil. A gente, muitas vezes, diz se é justo colocar sobre a mulher a
carga de levar um planejamento natural sem a participação, a aprovação e a
colaboração do companheiro. Essa diferença é esse essencial: é um método
do casal.
O casal consegue desenvolver o método sem uma instrutora?
Como proceder em regiões onde o número de instrutores não é suficiente para
atender à toda aquela população?
Dr. Agostinho Bertoldi – Eu tenho dito: não adianta pregar a doutrina sem
os instrumentais que a viabilizem. Eu tenho dito aos nossos padres e bispos
que, se eles querem que os casais se motivem, sigam a Doutrina e façam um bom
planejamento com responsabilidade, que criem condições de atendimento, porque
se não, é colocar carga em cima das pessoas, sem que elas possam carregá-la.
Nós precisamos trabalhar, enquanto Igreja, no sentido de
oferecer às pessoas, aos casais, o instrumental para que possam colocar em
prática a doutrina. Se não, a doutrina fica na prateleira das nossas
bibliotecas e os casais vão fazendo aquilo que podem, e o que o médico indica,
eles fazem. São tão poucos os casais que seguem os métodos naturais porque não
tem, à disposição, os serviços bem organizados e na proximidade onde vivem.
E sobre a atuação com os casais, já teve alguma experiência
marcante?
Dr. Agostinho Bertoldi – Uma das coisas marcantes é essa parceria com a
Secretaria Municipal de Saúde. Inclusive o próprio pessoal da prefeitura está
interessado que a gente elabore um trabalho mostrando como são as atividades e
os resultados, também para ser divulgado. E em termos de gerar a vida, nós
temos testemunhos muito fortes de vários casais. Quando a gente vai à uma
comunidade e sai pelo menos um casal que trilha esse caminho, eles ficam
muito contentes em dar testemunho que aplicam o método natural, do
benefício que traz para a vida do casal, para a saúde, para a fecundidade
no amor. Nesses encontros, sempre há alguém com um testemunho bem eloqüente.
Lembramos que para um casal se tornar usuário do método
billings, é aconselhável procurar um instrutor de sua diocese. No final das
formações, disponibilizaremos uma lista com o nome de todos os casais
habilitados pela CENPLAFAM a orientarem o método Billings na Diocese de Novo
Hamburgo.
Como posso me tornar instrutor? Na minha cidade não há nenhum.
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