Movimento de Casais Jovens

Paróquia São Pedro Apóstolo - Ivoti

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Mons. Inácio José Schuster fala ao MCJ Ivoti sobre a renúncia de Bento XVI

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O Papa que Testemunhou a Cruz
Mons. Inácio José Schuster
Vigário Geral da Diocese de Novo Hamburgo

            Há séculos que nenhum Sumo Pontífice renuncia (precisamente há 598 anos), embora, pelo Direito da Igreja (Código de Direito Canônico, 332 § 2), o Papa possa fazê-lo. E, corajosamente, Bento XVI usou desta prerrogativa. Ele já tinha acenado para isso há tempos. Podemos acompanhar alguns sinais dos caminhos de Deus em sua vida. Em uma entrevista ao jornalista alemão Peter Seewald e publicada no livro "Luz do Mundo: o Papa, a Igreja e o Sinal dos Tempos", afrontara este tema e respondido que essa era uma possibilidade, caso o Papa chegasse à conclusão de que esse gesto seria melhor para a Igreja. Em abril de 2009, quando visitou o túmulo de Celestino V, um dos Papas que renunciou ao trono de Pedro, ele fez mais do que rezar diante dos restos mortais. Sem explicação, Bento XVI passou vários minutos lá e, depois, tendo recebido de seu secretário o pálio (de sua posse) pousou-o gentilmente na urna de vidro de Celestino.
        O seu gesto, que está agora sendo discutido, analisado, refletido por todos os meios de comunicação, tornou-se um sinal profético para todos os seus contemporâneos. Ele continuará sua missão evangelizadora e de amor pela Igreja numa vida de oração no Mosteiro que existe dentro do Vaticano. No mundo atual, onde governantes querem se perpetuar no poder, alguém que tem esse direito vitalício abre mão dele por pura humildade e pensando no bem da Igreja e do povo de Deus. No extremo de uma coragem heroica, própria dos grandes santos da Igreja, o Papa nos dá esse exemplo. Sentindo ele mesmo o peso da idade e a natural diminuição de suas forças físicas, “bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade”, renunciou ao ministério de Bispo de Roma, sucessor do Apóstolo Pedro.  A surpresa foi geral até para seus colaboradores mais próximos; como, por exemplo, o seu Secretário de Estado, que, em sua fala ao final da celebração da missa da Quarta-feira de Cinzas, interpreta o sentimento geral: “não seríamos sinceros, Santidade, se não lhe disséssemos que nesta noite há um véu de tristeza sobre o nosso coração”. A notícia percorreu o mundo, passando por toda a Igreja e chegando até os mais distantes países e governantes. Aqui no Brasil superou as notícias dos feriados de Carnaval. Um ato raro dos sucessores de Pedro e, desta vez, com transmissão por rádio e televisão e com todas as palavras jurídicas que exige o Direito Canônico. E Bento XVI o fez com o olhar terno e a voz tranquila e de paz de quem tomou uma decisão amadurecida.
            Lembro-me de uma entrevista concedida a BBC de Londres, no final de década de 1990, pelo então Papa João Paulo II. Perguntado pelo repórter o que era ser Papa da Igreja Católica, ele respondeu: “Ser Papa nunca nos dá direito a um concurso de popularidade. Não se concorre, nada mais e nada menos que a Cruz. É necessário manter as convicções do que é certo e do que é errado, mesmo que isso custe perder todos os católicos do mundo. O que é certo, vai ser sempre certo, mesmo que muitos ou todos achem que está errado. O que é errado vai ser sempre errado, mesmo que muitos ou todos achem que está certo”... Palavras firmes que nos ajudam a não perder o rumo e muito menos se deixar comprar, vender, trocar ou alugar por bagatelas com aparência do que podem ser as Palavras do Senhor, que na realidade, mesmo estando já quase tudo perdido, jamais passarão.
            A renúncia de Bento XVI não atenta contra a tradição ou as normas canônicas e pode abrir um precedente moderno, até mesmo salutar, no sentido de um Papa não prosseguir governando, para além de suas forças físicas e de modo limitado, deixando à Cúria Romana a maior parte das decisões (certamente foi esta a experiência que Bento XVI fez nos últimos anos de João Paulo II...), mas também no sentido de não se impor a uma pessoa já debilitada e diminuída, no seu vigor, o ônus de suportar o árduo e gravoso governo da diocese de Roma e da Igreja universal.
            Rezemos por Bento XVI... e pelo novo Papa... afinal: A Igreja de Cristo permanecerá eternamente. O que o gesto do Papa então pede de nós, é mais do que confiança. É fé!
Fé naquelas palavras ditas por Nosso Senhor a São Pedro e a seus sucessores: "As portas do inferno não prevalecerão!" (Mt 16, 18).
            Estas palavras permanecem inabaláveis através dos séculos!

            Com a prece e a bênção, um forte abraço aos casais do Núcleo do MCJ de Ivoti, em especial os (muito em breve) recém-chegados... sejam iluminados!


segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

QUE SEJA ETERNO ENQUANTO O ALGORITMO DEIXAR: O CASAMENTO NA ERA DOS SITES DE ENCONTROS

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De um lado, a Igreja nunca cessou de afirmar a importância do sagrado matrimônio, não apenas em sua esfera espiritual e sacramental, mas também apregoando suas vantagens para a realização pessoal do homem e da mulher como família, e como base de transformação de uma sociedade melhor e mais humana.


De outro, muitos dos que buscaram os modelos de união oferecidos pelo mundo de hoje, ainda que se sintam angustiados por não obterem a tão prometida felicidade que outros aparentam ter encontrado – e cujo conceito não é inteiramente compreendido –, preferem ignorar o pleito da Igreja, em grande parte por considerá-la "desatualizada" em relação aos modernos meios de relacionamento possibilitados pela revolução dos costumes, da informática e da internet.


Todavia, um olhar mais acurado sobre o tema, lançado por estudiosos não vinculados à Igreja, revela que a Sagrada Escritura parece não ter perdido em nada a sua atualidade, e que o ensinamento encontrado em Mateus 7, 14, quando afirma que "é estreita a porta e o caminho que leva para a vida", apresenta-se como regra de ouro também para a felicidade nos relacionamentos amorosos.


A Revista Veja, em sua edição de 13 de fevereiro de 2013, faz eco à cobertura mundial dada ao fato de a rede social Facebook ter entrado de vez, por meio dos serviços "Graph Search" e do aplicativo "Bang with Friends", no milionário mercado do chamado Online Dating, ou dos encontros arranjados por meio de websites especializados. A reportagem de Veja fala pouco do universo dos sites de encontros online que já existe há bons anos e dos seus algoritmos de afinidade, focando sua abordagem mais no aplicativo "Bang With Friends", voltado primordialmente para obtenção do chamado "sexo casual" e não para aproximação de pessoas com intuito de estabelecer relacionamentos mais sérios; que é o objeto dos sites originais de Online Dating. 


Já a edição de fevereiro de 2013 da revista canadense MACLEAN's – que traz como manchete de capa a chamada "O Engodo: encontros online estão se tornando o principal modo como as pessoas se conhecem e se casam. E isso é mau para o casamento" –, apresenta uma abordagem bem mais abrangente e bem fundamentada sobre a temática.  


Surpreendentemente lúcida e imparcial para uma publicação não religiosa, ela também dá relevância inicial à entrada do Facebook no milionário mercado dos encontros arranjados por meio de websites especializados, trazendo dados nos quais se estima que os 1.500 sites de encontros hoje existentes valham de 1.5 a 2 bilhões de dólares; que ocorram 542 casamentos por dia nos Estados Unidos entre pessoas que se conheceram por meio de sites de encontros; e que de cada cinco novos relacionamentos, um se inicie por meio da internet.


A reportagem canadense segue explanando sobre como a procura por parceiros na internet se desmistificou e se tornou algo comum nos últimos 10 anos, a ponto de se poder prever que, num futuro não muito distante, a prática será tão corriqueira que não se fará mais distinção entre encontros arranjados de maneira pessoal e aqueles via sites de encontros como o Match.com e o OkCupid.com. Segundo o jornalista que escreve a reportagem,  tais sites não são mais do que uma derivação daquilo que as velhas senhoras de antigamente – ou os amigos de hoje – faziam e fazem ao providenciar que solteiros conhecidos seus sejam devidamente apresentados um ao outro.


Para bem compreender a coisa, é preciso saber que o sistema tradicional de Online Dating funciona por meio de determinados algoritmos de computador criados para comparar as características dos perfis dos diversos usuários e apresentar-lhes as possíveis "melhores combinações". Na realidade, alguns desses sites prometem encontrar, por meio de seus algoritmos de busca e comparação, o "soul mate" do usuário ou, em bom português, a sua "cara metade".


Em defesa dos sites de encontros, alega-se que oferecem a possibilidade de pessoas com problemas para iniciar relacionamentos – como aquelas de idade já avançada ou que possuam uma vida com características muito particulares – poderem usufruir de uma ferramenta de pesquisa que lhes aproxime. Há, também, a menção aos casos de pessoas que se conheceram por meio destes sites e acabaram casando, e se encontram bem e felizes até hoje. Todavia, essa não é a tônica.


As pesquisas e estudos científicos apresentados na reportagem comprovam – e os próprios CEOs dos sites de encontros admitem – que há um outro lado nefasto por trás desse dinamismo virtual: o aumento no número de divórcios.

Pessoas que fazem uso desses serviços online mudam seus parâmetros de relacionamento estável em razão da excessiva oferta de possíveis parceiros tidos como compatíveis, e não se apegam mais aos relacionamentos existentes, mesmo aqueles iniciados por meio do próprio Online Dating. A virtual infinidade de possibilidades apresentada pelos sites – que já possuem até aplicativos para smartphones, permitindo que se escolha um novo parceiro enquanto se espera o ônibus – corroem as bases do chamado compromisso afetivo, e desmotivam os casais a trabalhar os problemas da relação. Fica mais fácil procurar outra opção compatível do que lutar pelo que se tem.


A opinião de pesquisadores, de fato, não corrobora a tese de que a compatibilidade de personalidades apresentada pelos algoritmos de sites de encontros tenha algo a ver com o sucesso de um relacionamento feliz e duradouro. Segundo os psicólogos Eli Finkel e Susan Sprecher, a evidência científica atesta que a comparação de características pessoais por meio de algoritmos de computador é apenas "desprezivelmente melhor do que conhecer pessoas a esmo".


A pegadinha – ou o "engodo", como diz a capa da revista – dos sites de encontros reside no fato de que encontrar alguém compatível mostrou não ter nada a ver com felicidade.


Há exemplos irônicos e divertidos, mas que demonstram a trágica incongruência de se buscar sempre novas opções ao invés de lutar pelo que se tem. O usuário "Mark", um médico de Toronto duplamente divorciado, ao procurar por um relacionamento melhor online, se cadastrou no site Match.com e recebeu e-mails com perfis de parceiras compatíveis. Dentre as possíveis soul mates, havia o perfil de uma de suas ex-mulheres.


Mais preocupante é o caso de um homem de 30 anos chamado Jacob, que rompeu seu relacionamento de dois anos com a – em suas próprias palavras, "bela e jovem" – Rachel, sob a alegação de que "ter conhecido Rachel tão facilmente pela internet me tornou confiante de que, se voltasse a ser solteiro, poderia sempre encontrar outra pessoa". De maneira espantosa, Jacob afirma ainda que, se tivesse conhecido Rachel fora do universo dos sites de encontros, sem ter tido contato com aquela ferramenta da internet, ele não teria medido esforços para fazer seu relacionamento dar certo e para manter Rachel ao seu lado. Porém, as possibilidades oferecidas online mudaram sua "percepção de permanência".


Num estudo de 2012, um time de psicólogos norte-americanos argumentou que pessoas com uma forte crença no romance guiado pela magia do destino tem tendência de abandonar relacionamentos amorosos assim que os primeiros problemas aparecem, mesmo quando estão engajados em relacionamentos recompensadores. Em outras palavras – afirma a reportagem –, acreditar na cara metade ou no príncipe encantado faz desenvolver o que os pesquisadores chamam de "disfunção romântica".


Por outro lado, os psicólogos alegam que "aqueles que acreditam no Crescimento Romântico (também chamado de Crença do Faça Funcionar) irão lutar nos momentos difíceis, e terão sucesso". Corroborando o valor de lutar pelo funcionamento dos relacionamentos amorosos, o jornalista Dan Slater afirma que "a evidência é sólida no sentido de que ter um parceiro estável é muito mais saudável e promove o bem-estar". Numerosos estudos sugerem que pessoas casadas vivem mais do que as solteiras, e que permanecem mais saudáveis ao longo da velhice.


Lançando outras luzes sobre esse mesmo ponto, Peter Ludlow, filósofo e professor da Northwestern Univesity, analisa a problemática apresentada na reportagem e chama a atenção para a necessidade de valorização dos relacionamentos existentes em detrimento da busca incessante por novas possibilidades. Diz ele que "se diamantes brotassem de Dentes-de-leão, ninguém se interessaria por diamantes".


O texto da reportagem encerra dizendo que, com a difusão dos smartphones e dos aplicativos de sites de relacionamentos, e à medida em que encontrar um parceiro começa a se assemelhar cada vez mais a comprar pela internet, algumas pessoas já começam a se preocupar com "a qualidade dos produtos". O mesmo time de psicólogos acima mencionado defende, em seu estudo de 2012, que os sites de encontros deveriam estar sujeitos a regulação e controle externo, da mesma maneira que a indústria farmacêutica e a de alimentos estão.


Após a leitura, resta nítida a sensação de que um relacionamento amoroso feliz não depende de encontrar a cara metade, e muito menos de uma escolha baseada em compatibilidades previamente auditadas por computador. De fato, a verdadeira compatibilidade parece ser construída ao longo do relacionamento. Sem querer, a revista canadense acaba fazendo coro à Igreja no sentido de que a crença num matrimônio sagrado e indissolúvel – e a luta por ele – torna as pessoas mais felizes do que a opção contrária.


O certo é que a busca pela felicidade é um pleito lícito. Deus nos quer felizes! Porém, a felicidade e o amor, dois termos envoltos em altruísmo e generosidade, pressupõe uma caminhada pela estrada do amadurecimento, e não a busca por atalhos. O uso de meios eletrônicos que nos indiquem a pessoa "mais adequada", com intuito de se reduzir os problemas de adaptação, traz em seu escopo um comodismo que soa mais como uma autoindulgência e, por fim, como puro e simples egoísmo – diametralmente oposto ao amor e à felicidade verdadeiros.


Pe. Adriano Zandoná, em seu livro Construindo a Felicidade (Editora Canção Nova, 2012), afirma que "a felicidade só pode ser concebida por meio de um gradativo processo de construção, e que ela nunca poderá acontecer instantaneamente e em um repentino passe de mágica".


Já o Pe. Fábio de Melo, numa de suas pregações intitulada "Amizade Amadurecida", lembra que "a psicologia nos ajuda a entender que todo o processo da maturidade vem da nossa capacidade de sair de nós e de irmos ao encontro do outro". Além disso, a criança não nasce amando, e sim com o "desejo de possuir o outro", que é uma espécie de amor não amadurecido e marcado pelo egoísmo. Em suas palavras, se aprende a amar "quando você descobre que o outro não tem que ser o que você quer". Só é amor de verdade "quando o outro perdeu toda a utilidade que ele poderia ter na sua vida, e mesmo assim você continua olhando nos olhos dele e dizendo: eu não sei viver sem você".


Os estudos mencionados na reportagem da Revista Maclean's só fazem por confirmar tais ensinamentos. Quanto ao aplicativo Bang With Friends, ele representa um atalho ainda mais rápido para a autoindulgência, e não para o encontro do amor e da realização pessoal duradouros. É quase impossível sustentar alguma ligação entre sexo casual e o encontro da felicidade verdadeira. Basta se perguntar quão remota é a possibilidade de um parceiro casual ser a pessoa a segurar nossa mão e velar por nós no leito de um hospital, ou a caminhar ao nosso lado quando tudo o mais em nossa vida parecer estar errado.


Em suma, como diz o famoso dito popular norte-americano: "no pain, no gain". A porta estreita ainda é a que leva às verdadeiras recompensas!



Pesquisa e Redação:

Departamento de Comunicação – MCJ Ivoti