A fecundação artificial,
também denominada "in vitro", consiste na fecundação de um óvulo em
proveta, fora portanto do corpo da mulher. Nisso o procedimento é diferente da
"inseminação artificial", que acontece mediante a transferência, nas
vias genitais da mulher, do esperma previamente recolhido. O juízo moral a
respeito de ambas as práticas é negativo, de acordo com o Magistério da Igreja,
mas, neste episódio de "A Resposta Católica", apenas a fecundação
artificial será objeto de análise.
Vejamos, então, por que razões a
Igreja se manifesta contrária a essa técnica de procriação. Os argumentos para
rejeitar a fecundação "in vitro" podem ser condensados basicamente em
dois, os quais são expressos em duas importantes declarações do Magistério
recente da Igreja. Deixamos transcritos abaixo os trechos que consideramos mais
relevantes para a abordagem integral da questão.
1. "Um ponto preliminar
para o juízo moral acerca de tais técnicas é constituído pela consideração das
circunstâncias e das conseqüências que elas comportam em relação ao respeito
devido ao embrião humano. A consolidação da prática da fecundação in vitro exigiu
inúmeras fecundações e destruições de embriões humanos. Ainda hoje, pressupõe
habitualmente uma hiperovulação da mulher: vários óvulos são extraídos,
fecundados e, a seguir, cultivados in vitro por alguns dias.
Normalmente, nem todos são inoculados nas vias genitais da mulher; alguns
embriões, comumente chamados 'excedentes', são destruídos ou congelados. Entre
os embriões implantados, às vezes alguns são sacrificados por diversas razões
eugênicas, econômicas ou psicológicas. Tal destruição voluntária de seres
humanos ou a sua utilização para diversos fins, em detrimento da sua
integridade e da sua vida, é contrária à doutrina já recordada, a propósito do
aborto provocado.
Freqüentemente verifica-se uma
relação entre fecundação in vitro e eliminação voluntária de embriões
humanos. Isso é significativo: com esta maneira de proceder, de finalidades
aparentemente opostas, a vida e a morte acabam submetidas às decisões do homem
que, dessa forma, vem a se constituir doador arbitrário de vida ou de morte.
Esta dinâmica de violência e de domínio pode permanecer despercebida por parte
daqueles mesmos que, querendo utilizá-la, a ela se sujeitam. Um juízo moral
acerca do FIVET (fecundação in vitro e transferência do embrião) deve
levar em consideração os dados de fato aqui recordados e a fria lógica que os
liga: a mentalidade abortista que o tornou possível, conduz assim,
inevitavelmente, ao domínio por parte do homem sobre a vida e a morte dos seus
semelhantes, que pode levar a uma eugenia radical.
No entanto, abusos deste tipo não
eximem de uma aprofundada e ulterior reflexão ética acerca das técnicas de
procriação artificial consideradas em si mesmas, abstração feita, tanto quanto
possível, da destruição dos embriões produzidos in vitro."
(Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Donum Vitae, sobre o respeito à vida humana
nascente e a dignidade da procriação, de 22 de fevereiro de 1987)
2. "Além disso, é
eticamente inaceitável para a Igreja a dissociação da procriação do
contexto integralmente pessoal do ato conjugal, pois a procriação humana é um
ato pessoal do casal homem-mulher, que não admite nenhuma forma de delegação
substitutiva. A aceitação pacífica da altíssima taxa abortiva das técnicas de
fecundação in vitro demonstra eloquentemente que a substituição do
ato conjugal por um procedimento técnico – além de não ser conforme ao respeito
devido à procriação, que não se reduz à simples dimensão reprodutiva –
contribui para enfraquecer a consciência do respeito devido a cada ser humano.
O reconhecimento de tal respeito é favorecido pela intimidade dos esposos,
animada pelo amor conjugal.
A Igreja reconhece a legitimidade
do desejo de ter um filho e compreende os sofrimentos dos cônjuges angustiados
com problemas de infertilidade. Tal desejo, porém, não pode antepor-se à
dignidade de cada vida humana, a ponto de assumir o domínio sobre a mesma. O
desejo de um filho não pode justificar a 'produção', assim como o desejo de não
ter um filho já concebido não pode justificar o seu abandono ou
destruição." (Congregação para a Doutrina da Fé, Instrução Dignitas Personae, sobre algumas questões de
bioética, 8 de setembro de 2008, n. 16)
O Catecismo da Igreja Católica
lembra, enfim, aos casais que não podem gerar filhos que "a esterilidade
física não é um mal absoluto" (n. 2379). Embora constitua um fato particularmente
doloroso, unidos ao sacrifício de Cristo, os nossos sofrimentos adquirem valor
redentor. Além disso, mesmo àqueles casais que não podem oferecer à Igreja
filhos gerados de seu próprio ventre, permanece vivo o apelo de Cristo para que
se tornem efetivamente pais espirituais, gerando filhos já, não para este mundo
terreno e passageiro, mas para a vida vindoura e eterna.
Fonte: https://padrepauloricardo.org/episodios/o-que-a-igreja-ensina-a-respeito-da-fecundacao-artificial
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