Quaresma é tempo de lutar contra nossos pecados, pois
ele é a pior realidade para nós. O Catecismo diz: “Aos olhos da fé, nenhum mal
é mais grave que o pecado, e nada tem consequências piores para os próprios
pecadores, para a Igreja e para o mundo inteiro” (n. 1489). Olhando para Jesus,
desfigurado e destruído na cruz, entendemos o horror que é o pecado. Foi
preciso a morte de Cristo para que nos livrássemos do pecado e da morte eterna,
a separação da alma de Deus. Então, a Igreja nos propõe 40 dias de penitência,
de resistência contra o pecado na Quaresma.
Convite à conversão
O primeiro convite é à conversão, é um alerta contra
a superficialidade de nossa maneira de viver. Converter-se significa mudar de
direção no caminho da vida: uma verdadeira e total inversão de rumo. Conversão
é ir contra a corrente, contra a vida superficial, incoerente e ilusória, que
frequentemente nos arrasta, domina e torna-nos escravos do mal ou pelo menos
prisioneiros dele. Jesus Cristo é a meta final e o sentido profundo da conversão;
Ele é o caminho ao qual somos chamados a percorrer, deixando-nos iluminar pela
sua luz e sustentar pela sua força. A conversão é uma decisão de fé, que nos
envolve inteiramente na comunhão íntima com a pessoa viva e concreta de Jesus.
A conversão é o ‘sim’ total de quem entrega sua vida a Jesus pela vivência do
Evangelho. “Cumpriu-se o tempo e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e
crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Penitência não é para
fazer mal
Para vencermos a nós mesmos, nossas fraquezas e
paixões desordenadas, a Igreja recomenda, sobretudo na Quaresma, o jejum, a
esmola e a oração como “remédios contra o pecado”, a fim de dominar as
fraquezas da carne e aproximar-se de Deus. Portanto, não se deve fazer uma
penitência exagerada, uma mortificação que leve a pessoa a ficar doente ou a se
sentir mal. O jejum exige, sim, passar um pouco de fome durante o dia, mas sem
causar mal à pessoa, sem tirar a sua condição de trabalhar, rezar etc.
Saber calar pode ser
uma boa penitência
Há formas boas
de mortificação, como cortarmos aquilo que nos agrada, seja para o corpo ou
para o espírito, mas há pessoas que fazem excessos: peregrinações longas
demais, penitências até com feridas, prejudicando a saúde. Deus não quer isso,
Ele não nos pede o impossível.
Qual
mortificação eu preciso fazer? É aquela que abate o meu pecado. Se eu sou
soberbo, então minha penitência deve ser o exercício de humildade: vencer todo
orgulho, ostentação, vaidade, exibicionismo, desejo de aparecer, de impor-se
aos outros e saber calar. Se seu pecado é o apego aos bens materiais e ao
dinheiro, então eu preciso exercitar muito a boa e farta esmola, o
desprendimento do mundo e das criaturas. Se meu mal é a luxúria e a impureza,
então vou exercitar a castidade nos olhos, ouvidos, leituras, pensamentos e
atos. Se sou irado, vou conquistar a mansidão; se sou invejoso, vou buscar a
bondade; se sou preguiçoso, vou trabalhar melhor e ser diligente em servir aos
outros sem interesses.
Perdoar pode ser mais
importante
São Francisco de Sales, doutor da Igreja, dizia que a
melhor penitência é aceitar, com resignação, os males que Deus permite que nos
atinjam, porque Ele sabe do que precisamos, e assim nossos pecados são
vencidos. A penitência que Deus nos manda é melhor do que aquela imposta por
nós mesmos. Então, aceite, especialmente na Quaresma, sem reclamar, sem culpar
ninguém, todos os males, dores, aborrecimentos e injurias que sofrer, e ofereça
tudo a Deus pela sua conversão. Pode ser que dar o perdão a quem lhe ofendeu
seja mais importante do que ficar 40 dias sem fazer isso ou aquilo. Uma visita
a um doente, a um preso, o consolo de alguém aflito pode ser mais importante
que uma peregrinação demorada. Tudo é importante, mas é preciso observar o mais
importante para a realidade espiritual.
Extraído de:
http://formacao.cancaonova.com/liturgia/tempo-liturgico/quaresma/cuidado-com-as-penitencias-absurdas-na-quaresma/