Foi Santo Agostinho quem disse: "A
medida do amor é não ter medida." Porém, por mais belas e românticas que
sejam tais palavras, o seu sentido é muito mais profundo do que o leitor
apressado normalmente consegue apreender.
Em contrapartida, outro ditado,
este popular, diz que "amor de verdade, só de mãe". Ainda que carregado
de cinismo e de crítica, colocando em cheque a medida da entrega do amor entre o
homem e a mulher, tal ditado encerra, em si, uma reflexão verdadeira: o amor de
um casal raríssimas vezes nasce completo e livre de egoísmos, e precisa de uma
longa caminhada de aperfeiçoamento para encontrar sua maturidade.
O amor materno, por sua vez,
nasce pleno e abnegado. Nada espera em troca. Deseja e protege, se compraz e se
realiza pela simples constatação de que o outro – filho ou a filha – existe. Tal amor, normalmente, é associado à ligação profunda
que a mulher desenvolve com o feto que cresce e se transforma em seu ventre. Porém,
por mais que não seja dado aos homens experimentar tal glória de sustentar o
desenvolvimento da vida em seu próprio corpo, também a eles é possível amar
assim. No dia de hoje, 19 de março, se relembra a memória de um verdadeiro exemplo
masculino de amor desmedido: São José.
E, seja por uma grande felicidade
do acaso ou pela força determinante do desígnio, a coincidência de datas entre a
missa inaugural do atual papado com o dia da memória de São José não poderia
ter sido mais propícia.
O Papa Francisco, por sua vez, bem
soube aproveitar tal convergência em sua homilia. Num primeiro momento, relembrou
com propriedade o Patrono da Igreja, aquele que, nas palavras de J. Alves, é
"o padroeiro da Igreja Universal, o advogado dos lares cristãos e o modelo
dos operários". A seguir, nos falou da necessidade de cuidado e de
proteção da vida, coisas que dizem respeito diretamente à trajetória pessoal de
José.
Seu amor a Maria, sua entrega e sua
subserviência ao chamado divino permitiram a proteção de que a Virgem
necessitava em momento de precária segurança. O que poderia ser de uma mulher
grávida e não casada, sozinha, submetida ao julgamento social daquela época?
José foi a proteção humana garantindo a segurança de Maria e do menino Jesus em
todos os aspectos, e não apenas com sua presença física. Foi a figura marital, recobrindo
de tranquilidade a gravidez de Maria ante o escrutínio público, além de servir
de exemplo paterno e de sustento por meio de seu amor e de seu trabalho.
Assim, é pertinente que nós,
homens, reflitamos sobre as escolhas de São José, e nos espelhemos nele para
sermos melhores maridos e pais. São José é exemplo de caráter e de entrega
abnegada. Acreditou na Providência Divina e amou, contra tudo e contra todos,
até mesmo o fruto do ventre que sabia não ser seu. O mundo de hoje precisa de
mais pessoas dispostas a amar desta forma gratuita e para além do egoísmo e das
expectativas sociais.
Espelhando-se no exemplo de São José, quer-se também, nesta data, fazer
menção a um problema que escapa aos olhos da maioria da sociedade, e que se
agrava em razão do medo e do preconceito.
Ao falar de maternidade e de paternidade,
tem-se por presumível que um casal considere, ao menos como normal, a realização de seu amor
por meio de filhos. Há casos, inclusive, nos quais um ou ambos no casal possuem
uma inclinação forte e um desejo acentuado por filhos.
Todavia, muitas vezes esse desejo
é inesperadamente obstado. A poluição, a alimentação ruim, o estresse e as
exigências incessantes da vida atual parecem contribuir diretamente para o
aumento do número de casos de homens e mulheres que não conseguem gerar filhos
biológicos, e isso costuma ser descoberto somente após terem tomado a decisão
sincera de ter um filho.
A tragédia então se instala entre
o casal, amigos e familiares. Entretanto, onde muitos esmorecem e perdem as
esperanças, persiste aí um chamado silencioso ao amor.
Longe dos olhos do casal
arrasado, os profissionais que atuam junto aos Juizados da Infância e da
Juventude (assistentes sociais, conselheiros tutelares, juízes, advogados e
promotores), deparam-se com uma miríade de crianças, de todas as idades, que
aguardam por ser amadas e por uma família.
Tais crianças são vítimas inocentes
de uma realidade cruel, de famílias sem Deus, de pais que se deixaram levar
pela violência, pela criminalidade ou pelos vícios. Crianças que o Estado, para
sua própria proteção, acaba por afastar dos pais e as abriga sob seus cuidados.
Crianças, algumas ainda em tenra idade, que pouco souberam, mas que muito
desejam, em relação ao amor de um pai e de uma mãe.
Mas um abismo de medo,
desconhecimento e preconceitos separa aquele casal cheio de amor, e que não
pode ter filhos, dessas crianças sedentas por ser amadas. O casal teme criar um
filho que não é seu, teme que os avós não olhem com bons olhos um filho não
biológico, ou simplesmente se deixa levar pelo orgulho. Gastam quantias nunca
desprezíveis e sofrem por longos anos tentando engravidar, mas não olham para o
chamado que lhes é dirigido: a adoção.
O processo de adoção, por sua
vez, é extremamente simples. Esbarra no medo, e não na burocracia. Não é
necessário nem mesmo a contratação de advogado num primeiro momento, bastando
que o casal se dirija à Vara de Família do Fórum de sua cidade e retire alguns formulários
de habilitação, a serem preenchidos e devolvidos com alguns documentos,
mormente de identificação. Nesses formulários, é possível indicar até mesmo a
idade da criança que se pretende adotar e se existe o desejo de adotar irmãos. Após
isso, o casal receberá a visita de assistentes sociais, que farão entrevistas
para identificar as possibilidades de adotar e, uma vez habilitados, poderão
passar a ter contato com crianças que aguardam adoção. Autorizada a adoção, a criança recebe nova certidão de nascimento e sua filiação biológica é guardada sob sigilo, só podendo ser revelada por ordem judicial; resguardando aos pais adotivos a faculdade de revelar ou não a filiação não biológica quando o filho ou a filha atingirem a idade adequada para compreender tal fato.
Em suma, não há maiores dificuldades burocráticas para a realização do ato. Basta a coragem. Basta reunir o mesmo amor abnegado que se desejaria dar a um filho biológico e, com ele, responder sim ao mesmo chamado que uma vez foi apresentado a um certo carpinteiro, e cujo sim cooperou para o nascimento daquele que viria a mudar a face da Terra.
Ao fim e ao cabo, adotar é mais do que ser mãe e ser pai: é ser salvação. É amar de forma ainda mais abnegada. Não apenas amar a graça recebida, mas lutar para que ela ocorra. Se entregar, contra tudo e contra todos, e romper o preconceito, saltando por sobre o abismo para se realizar por completo.
Ao fim e ao cabo, adotar é mais do que ser mãe e ser pai: é ser salvação. É amar de forma ainda mais abnegada. Não apenas amar a graça recebida, mas lutar para que ela ocorra. Se entregar, contra tudo e contra todos, e romper o preconceito, saltando por sobre o abismo para se realizar por completo.
Adotar é ser a
mão do próprio Deus no caminho de uma criança.
É o verdadeiro e completo amor sem medidas.
Nossas orações pelo Papa Francisco, para que o seu sim seja tão frutuoso quanto o sim dado por José.
É o verdadeiro e completo amor sem medidas.
Nossas orações pelo Papa Francisco, para que o seu sim seja tão frutuoso quanto o sim dado por José.
Pesquisa e Redação
Departamento de Comunicação
MCJ Ivoti
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